A AME, referência em projetos de inclusão e acessibilidade no Brasil, aproveita o Dia Internacional da Mulher para tirar da invisibilidade o fenômeno da violência contra as mulheres com deficiência, lançando o Projeto Caliandra. O objetivo do projeto é estimular e apoiar a mobilização de meninas e mulheres com deficiência que sofrem maus tratos e diferentes tipos de violência, a assumir uma postura de liderança denunciando seus agressores e, principalmente, evidenciando a existência dessa questão no Brasil. A ONG americana Mobility International USA (MIUSA) tomou a iniciativa de propor a 6 países, entre eles o Brasil, a desenvolverem planos nacionais de prevenção e enfrentamento à violência no contexto da pandemia, liderado por ativistas com deficiência, buscando sensibilizar a sociedade civil e o setor público a se envolverem com este problema.
“As consequências do isolamento social têm sido ainda mais cruéis com mulheres e jovens com deficiência, muitas vezes confinadas junto com seus agressores e sem retaguarda familiar ou social. Há relatos impactantes de violência e maus tratos que precisam ser conhecidos pela sociedade”, diz José de Araújo Neto, presidente da AME. Segundo Araújo, o Caliandra chega para dar visibilidade a este fenômeno, ainda hoje oculto da sociedade, tentando interromper esse ciclo de violações de direitos.
Com o mote “Caliandra – sua voz, nossa voz”, a campanha é composta por vídeos e folders eletrônicos que serão veiculados na internet. O projeto será desenvolvido em vários eixos, desde a busca e/ou produção de dados e informações sobre a violência contra a mulher com deficiência, hoje inexistentes ou muito precários; buscar parcerias para qualificar profissionais de saúde, proteção social, segurança pública e justiça para que consigam identificar e aprimorar seus serviços e formas de atendimento. Outra estratégia prevista é a aproximação entre grupos feministas que já lutam contra a violência para que sejam mais inclusivos. “Sabemos hoje que, segundo a ONU, o Banco Mundial e a Universidade de Yale, a mulher com deficiência sofre três vezes mais com violência sexual que uma mulher sem deficiência”, diz Ana Rita de Paula, doutora em psicologia clínica, coordenadora técnica do Projeto Caliandra e uma das principais vozes do movimento pelos direitos das pessoas com deficiência.
O projeto também busca incentivar o trabalho cooperativo entre organizações governamentais e não governamentais com o envolvimento de movimentos e coletivos voltados às pessoas com deficiência, às mulheres e à comunidade em geral. O Projeto Caliandra já tem apoio dos seguintes parceiros:
- Coletivo de Trabalhadores e Trabalhadores com Deficiência da CUT
- Coletivo Liberinas
- Coletivo Mulheres com Deficiência do Distrito Federal
- Eu Me Protejo – Educação inclusiva para prevenção do abuso sexual na infância
- Grupo Mulheres do Brasil
- Instituto Entre Rodas
- Instituto Maria da Penha
- Justiceiras
- Movimento Feminista de Mulheres com Deficiência Inclusivass do Rio Grande do Sul
- Pastoral da Pessoa com Deficiência da Arquidiocese de São Paulo
- Programa Todas in-Rede da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo
- Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência da Prefeitura de São Paulo
- Secretaria Municipal dos Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo
- Tamojuntas
“A pandemia trouxe luz à uma questão pouco discutida, mas muito importante, que é a da violência contra mulheres com deficiência. Precisamos dar voz a essas mulheres, entender quais os pontos de maior atenção e tornar o atendimento ainda mais acessível para elas. Para isso, temos parceiros como a AME e projetos como o Caliandra que são fundamentais, pois possibilitam um olhar humanizado e acolhedor, além de dar visibilidade a causa unindo sociedade civil organizada, população e poder público no combate à violência contra as mulheres com deficiência”, diz Cláudia Carletto, secretária municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo.
Embora não haja estatísticas específicas sobre a violência contra a mulher com deficiência no Brasil, o que em si já significa a invisibilidade da questão, relatos indicam que houve um aumento significativo nos casos de violência contra as mulheres em geral. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) registraram 648 feminicídios no Brasil no primeiro semestre de 2020, o que significa aumento de 1,9% em relação ao mesmo período de 2019. Na verdade, durante a pandemia as dificuldades tradicionais que as mulheres com deficiência enfrentam para realizar denúncias, o isolamento social agravou ainda mais essas barreiras.
Origem do nome
Caliandra é uma flor do cerrado que aproveita os poucos recursos desse ecossistema para se desenvolver e florir. Numa analogia, meninas e mulheres com deficiência também vivem em um ambiente social adverso. “A Caliandra serviu de inspiração para que elas sejam fortalecidas, ocupem espaços sociais dignos e possam lutar coletivamente para garantirem seus direitos básicos” explica Mila Guedes, coordenadora geral do Projeto Caliandra no Brasil.
No site da AME poderão ser encontradas mais informações sobre o projeto e materiais instrucionais. Quem quiser conversar com a equipe do projeto entre em contato através do e-mail: caliandra@ame-sp.org.br