Ainda nos primeiros dias de junho de 2021, o médico oftalmologista Alexandre Rosa, de Belém, no Pará, publicou em uma das suas redes sociais uma situação de inclusão e autonomia vivida em seu consultório. Estava encantado com o fato de ter podido se comunicar com seu paciente surdo durante a consulta. “Ao fazer o atendimento a um paciente com deficiência auditiva conheci uma plataforma sensacional: o ICOM Libras“, escreveu ele. E acrescentou: “Nela, um tradutor de Libras atuou como intérprete na consulta, através de uma videochamada ao vivo, traduzindo para mim o que o paciente falava e para ele, o que eu estava explicando. Foi uma experiência maravilhosa”. Ainda segundo o médico, um ótimo exemplo de como a tecnologia pode resolver problemas e aproximar as pessoas.
O ICOM é uma das iniciativas da AME. Conhecer momentos como o vivido pelo médico oftalmologista em seu consultório em Belém é ver se concretizar o trabalho de mais de 30 anos na construção da inclusão com objetivo de dar autonomia às pessoas com deficiência.
O ICOM nasceu com esse objetivo – proporcionar ao surdo independência nas tarefas do dia a dia que envolvam a comunicação. A situação narrada pelo médico é só uma delas. Com o ICOM, o surdo também pode agendar a consulta com o médico sem a necessidade de pedir ajuda a um ouvinte. A tradução simultânea das conversas ocorre em tempo real. E pode ser gravada quando previamente solicitada.
O serviço é oferecido aos cidadãos e também às empresas. A parceria ICOM-empresa estabelece com o cliente todas as funcionalidades a serem adquiridas, inclusive as gravações. Nesse caso, há um termo de confidencialidade assinado com o ICOM, que segue todos os preceitos do Código de Conduta do Profissional Tradutor e Intérprete de LIBRAS/PT.
Começou na quinta-feira, dia 10 de junho, a vacinação para todas as pessoas com deficiência a partir dos 18 anos. Inicialmente, o governo determinou que apenas as pessoas contempladas com BPC (Benefício de Prestação Continuada) é que receberiam a vacina.
Conhecendo a importância da imunização para as pessoas com deficiência permanente e por achar discriminatório o critério da adoção do BPC para iniciar a vacinação, a AME convidou o secretário de saúde do Estado de São Paulo, Jean Carlo Gorinchteyn, a senadora Mara Gabrilli e a professora e médica Linamara Battistella para debater o tema da vacinação em uma Live realizada no início de maio. Na ocasião, o secretário já havia sinalizado aos participantes da live que a ampliação do grupo de pessoas com deficiência vacinadas deveria ocorrer a partir de junho.
Três alunos da Escola Técnica Estadual Lauro Gomes, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, criaram um programa que emprega Inteligência Artificial (IA) para transformar movimentos e expressões da Língua Brasileira de Sinais em texto. Elaborado por Vinícius Luciano Navarrete da Silva, Luciano dos Anjos Oliveira e Fabrício Holanda de Almeida para o trabalho de conclusão do curso de Técnico em Desenvolvimento de Sistemas, o software é capaz de reconhecer sinais com as mãos, expressões faciais e movimentos do corpo. O projeto, desenvolvido com o sistema operacional Ubuntu, Machine Learning (ML) e código aberto MediaPipe do Google, se classificou entre os dez primeiros na votação popular da 19ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), que aconteceu no mês de março em São Paulo. Agora, que a ferramenta já está apta a converter cerca de 100 sinais de Libras para texto, os jovens estão em busca de intérpretes para aprimorá-la ainda mais. Quem tiver interesse em colaborar pode clicar no link a seguir para entrar em contato por email.
O fenômeno da transformação digital impulsiona empresas de diferentes segmentos a repensar suas posturas no mercado em que atuam. Isto não diz respeito apenas a modernização das tecnologias e digitalização dos processos, a mudança acontece também na esfera social.
Assim, entre tantas pautas que hoje têm ganhado visibilidade no mundo digital e real, por assim dizer, a da acessibilidade e inclusão social emerge tomando consistência e sendo exigida de empresas e marcas. Essa tomada de consciência coletiva sobre direito das pessoas com deficiência começa a refletir no dia a dia das organizações e nas suas formas de comunicação.
Vamos lá?
Por que adotar o recurso da Janela de Libras
A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) foi reconhecida como língua apenas em 2002, sendo aos poucos incluída nos currículos escolares como medida para popularizar o código linguístico e diminuir a barreira de comunicação entre ouvintes e surdos no país.
Ela é fundamental para a comunicação das pessoas surdas, principalmente das não oralizadas que representam cerca de 450 mil pessoas no país, segundo Instituto Locomotiva. São pessoas que não dominam a língua portuguesa porque nasceram surdas e foram alfabetizadas pela língua de sinais.
Portanto, para este grupo não cabe produzir vídeo legendado, pois ele não conseguirá entender a mensagem. O mais adequado é disponibilizar a janela de libras, recurso que posiciona um intérprete de libras em um dos cantos da tela, geralmente no canto inferior direito ou esquerdo.
Definida pela NBR 15.290, da ABNT, a janela de libras trata de um espaço delimitado no vídeo em que as informações transmitidas em língua portuguesa são interpretadas para Libras.
Quando usar
A obrigatoriedade desse recurso recai apenas sobre material de campanha política e das esferas governamentais. A norma ainda prescreve que a janela deve possuir metade da altura da tela e um quarto da largura, uma vez que para se compreender a sinalização é necessária a visualização dos gestos das mãos e da expressão facial.
Em caso de vídeo corporativo, informativo ou de entretenimento, numa produção gravada ou ainda ao vivo, a janela de libras se mostra mais adequada por contemplar toda população surda, independente do seu grau de surdez.
Mesmo não sendo obrigatório nos vídeos institucionais e publicitários, recomenda-se o uso da janela de libras para empresas que queiram adotar efetivamente uma cultura inclusiva, interna e externamente.
Internamente, o recurso também é válido quando realizamos reuniões, eventos e palestras em vídeo, gravadas ou não. Nesse caso, é interessante dispor de um profissional para fazer a tradução da mensagem que possa atender a demanda das pessoas surdas do outro lado da tela.
Além disso, é muito importante que o intérprete veja o conteúdo com antecedência para se familiarizar. Deve trajar roupas de cor neutra que contrastem bem com o fundo e que destaquem as mãos e as expressões faciais.
Por que adotar o recurso de legenda para surdos
A legenda de vídeos ajuda no acesso não só de pessoas surdas oralizadas, mas também de ouvintes que por algum motivo não podem escutar o áudio da mensagem e recorrem à legenda para se informar.
É um trabalho, em certa medida, laborioso e preciso que deve ser solicitado no processo de edição do vídeo. O editor deve ter cuidado em fazer a transcrição correta das falas e descrição dos áudios que compõem o vídeo. Isto porque a legenda para surdos ou ensurdecidos (LSE) é diferente da legenda de tradução de filmes em língua estrangeira, por exemplo.
No primeiro caso, além de descrever a fala dos personagens, a LSE também traz informações sobre quem está falando e os sons ao fundo da imagem, se está tocando uma música, ou se tem som de pássaros etc. Toda a paisagem sonora, além das falas, precisa constar na LSE para que a pessoa surda possa se ambientar melhor.
Para a comunidade surda oralizada, a legenda ajuda na compreensão da mensagem dos vídeos. Como por exemplo, em filmes que são produções mais longas e não costumam contar com janela de libras pelo caráter do produto. Nesse caso, a legenda é fundamental, mas ainda exclui o surdo não oralizado, como exposto anteriormente.
Quando usar?
Tendo em vista que a legenda atende ao público ouvinte também, parte da população surda e os ensurdecidos, a legenda, hoje, é um recurso essencial em toda produção audiovisual que se queira denominar inclusiva.
Cabe ressaltar que por mais laborioso que seja, a empresa deve optar pela produção da legenda e não confiar na legendagem automática de algumas plataformas de vídeo, tv (closed caption ou legenda oculta). Pois, o sistema de legendagem automática desses espaços, por vezes, não consegue captar com exatidão tudo que está sendo dito, legendando trechos de forma equivocada, o que pode levar a má interpretação da mensagem.
O Decreto Legislativo n° 186 de 09/07/08 aprovou o texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que tem como objetivo promover, proteger e assegurar os direitos humanos e liberdades fundamentais para as pessoas com deficiência, e em seu artigo 19 cita a importância da garantia de vida independente e inclusão na comunidade.
A liberdade de escolha e a participação ativa em todas as esferas da vida em sociedade devem ser usufruídas pelas pessoas com deficiência e ofertadas pelo poder público e, acima de tudo, pela própria sociedade, que muitas vezes é a grande causadora das inúmeras barreiras enfrentadas por essa população que busca incessantemente por igualdade de oportunidades. Entendemos como igualdade de oportunidades a condição de participação plena e efetiva em quaisquer situações, não sendo um ganho de privilégios, mas sim garantia de direitos.
A acessibilidade deve ser garantida para que dentro da comunidade haja a possibilidade de uso de todos os serviços, instalações e equipamentos, assim como interação com as demais pessoas, evitando-se assim isolamento ou segregação. Acima de tudo, não basta apenas o uso e interação, é preciso que independência e autonomia estejam presentes, pois assim é garantida tanto a possibilidade de realização de atividades do dia a dia quanto o autogerenciamento e a tomada de decisões.
A vida em sociedade é uma necessidade de todo ser humano e a convivência entre pessoas com e sem deficiência é essencial para que haja uma melhor compreensão acerca de quem é a pessoa com deficiência, suas particularidades, características específicas, eventual necessidade de apoio e principalmente a melhor forma de abordagem e conduta.
Todos nós temos nossa individualidade e a diversidade está implícita em todos, sem exceção. Portanto, uma pessoa com deficiência é uma pessoa como outra qualquer, com seus desejos, aspirações, sonhos, objetivos, medos e história de vida como um todo. Mas, devido ao histórico de segregação e exclusão imposto a essa população, que ainda traz consequências nos dias de hoje, é extremamente necessário e essencial que as pessoas com deficiência estejam cada vez mais presentes na comunidade como um todo, quer seja trabalhando, estudando, viajando, utilizando diferentes meios de transporte e diferentes serviços ofertados a toda população. Elas devem ser vistas, respeitadas e acima de tudo, incluídas. A inclusão pode ser considerada uma via de mão dupla, onde pessoas com deficiência e sociedade se adaptam de forma simultânea para um melhor convívio.
Assim, o convívio entre todos, pessoas com e sem deficiência, pode estimular essa naturalidade que pode e deve existir entre esses dois grupos, por assim dizer, e fazer com que seja observado em todas as pessoas um maior desenvolvimento e uma busca para ultrapassar a própria individualidade, contribuindo assim para o processo de inclusão.
A vida em comunidade também é necessária porque é nela que compartilhamos ideias, sonhos e satisfazemos nossas próprias necessidades. Longe dela, nos isolamos e nos privamos de relacionamentos, que é onde podemos obter as condições básicas para nossa sobrevivência.
Em sociedade, podemos crescer, nos aperfeiçoar e melhorar como seres humanos, e a conquista da independência e autonomia está diretamente ligada a isso. Uma pessoa com deficiência que tem condições asseguradas de mostrar sua independência e autonomia sente-se mais valorizada e apta a manter um bom relacionamento com outras pessoas na comunidade.
Sem dúvida, a conquista da independência e autonomia traz para a pessoa com deficiência a possibilidade de fazer suas próprias escolhas, traçar seu próprio caminho, baseando-se no que entende ser melhor para ela mesma, e não recebendo algo de uma sociedade que, via de regra, ainda se mostra inacessível, segregador e que exclui.
O que ainda falta para termos um país acessível e inclusivo se temos leis e normas que nos direcionam para isso? Desconhecimento dos parâmetros, descaso e, talvez, falta de fiscalização mais rígida. Mas o que contribui muito para isso é a chamada barreira atitudinal, como o próprio nome diz, barreira provocada por uma atitude inadequada, um comportamento muitas vezes embutido nos participantes da própria comunidade e que apagam ou diminuem a independência da pessoa com deficiência.
Independência precisa andar de mãos dadas com a inclusão. Não podemos pensar em uma vida em comunidade caso as pessoas com deficiência não tenham condição de mostrar suas capacidades funcionais e habilidades, sendo assim privadas de participação e de possibilidade de execução de suas funções e atividades relacionadas à vida diária.