Quero, a partir do Projeto Caliandra sobre gênero, deficiência e violência, abordar a masculinidade sob dois aspectos: o geral e o particular.
Considerar a masculinidade sob o ponto de vista geral me faz lembrar de um momento bastante emblemático na luta das mulheres, senão o primeiro passo, indiscutivelmente um dos mais simbólicos: a greve das tecelãs em 1857, na cidade de Nova Iorque, terminada em tragédia com o assassinato brutal de cerca de 130 operárias.
Naquele momento, as mulheres lutavam por melhores condições de trabalho, lutavam por seus direitos como trabalhadoras e foram assassinadas – como foram antes e continuam sendo! – por lutarem por melhores e mais dignas condições de trabalho.
Esta não foi, não é e não será uma luta somente das mulheres. É uma luta de classes, uma luta absolutamente fundamental para a dignidade e a sobrevivência, hoje está claro, de toda a humanidade. E por essa razão, estamos juntes!
Pensar a masculinidade sob o ponto de vista particular, por sua vez, me leva de volta à infância, adolescência e juventude, quando ouvi de muitos homens adultos – próximos e queridos – a frase “não sei quantos filhos deixei por aí”.
Na época intrigante e incômoda, com o passar do tempo e compreendendo o seu real significado, a tal afirmação foi se transformando em mim, a ponto de se converter em uma tristeza profunda.
Com a alegria da paternidade, a frase dita por diferentes vozes era punhalada que me feria profundamente. E eu me perguntava: como um homem pode abandonar uma criança e se orgulhar disso?
Chego à conclusão de que nós, homens, de um modo trágico, somos vítimas do patriarcado, e de maneira acintosa e ridícula, abrimos mão da capacidade de amar e de receber amor. O patriarcado endureceu nossos corações. E é chegada a hora de reaprendermos a amar. Que este projeto Caliandra sobre gênero, deficiência e violência nos ajude a encontrar o caminho para isso.
Tuca Munhoz – Outono 2021.