Tatiana Batista (foto) tem 37 anos, é surda, e está à procura de uma oportunidade de trabalho desde que ficou desempregada, há quase um ano. Mora em Limeira, interior de São Paulo, e é mãe de dois rapazes. Há poucas semanas, encontrou uma vaga de operador de produção e mandou seu currículo. “Era uma vaga PCD”, lembra ela. Mesmo assim, fez questão de reforçar ao enviar seu currículo, que é surda. Também pediu para que entrassem em contato – caso ela fosse selecionada – somente por mensagem escrita (no WhatsApp), não por ligação. Em vão.
Passados uns dias, identificou duas chamadas não atendidas no seu celular. Pediu ao noivo, ouvinte, que ligasse para o número identificado. Sim, era a tão esperada entrevista de emprego. O noivo explicou quem era, reforçou que ela ia precisar de uma pessoa que falasse libras ou um tradutor de língua de sinais, e confirmou o interesse de Tatiana na vaga. No dia e hora marcados, lá estava Tatiana pronta para ‘agarrar’ a oportunidade que parecia surgir. “Mas quando cheguei, vi que havia umas sete pessoas além de mim, todas ouvintes. Por mensagem de texto, expliquei para a pessoa que estava ali quem eu era. Ela me deu um formulário, que preenchi, e aguardei minha vez. Só que não me chamaram para a entrevista.” Tatiana conta que recolheram sua ficha preenchida, mas foi dispensada. Inconformada, tentou entender porque não ia ser entrevistada. Tentou se comunicar por libras, mas percebeu que a atendente não tinha muito conhecimento. “Fiquei decepcionada e fui embora. Nunca mais me procuraram.”
Assim como Tatiana, há cerca de 35% de desempregados com algum tipo de deficiência em idade produtiva, segundo pesquisa realizada e divulgada no início de maio pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência. O objetivo do levantamento, que ouviu 8.464 indivíduos, sendo 4.200 mulheres e 4.264 homens, era identificar a relação dessa parcela da população com o mercado de trabalho. O acesso a posições formais de trabalho ainda é a principal dificuldade dessas pessoas no Brasil. A sondagem também apontou que 19,9% dos profissionais com deficiência seguem sendo avaliadas pelas suas limitações e não pelas suas vocações, habilidades e conhecimento.
Para os entrevistados, a busca pela independência financeira é a principal motivação para ingressar no mercado de trabalho. Outro dado interessante é que 43,75% dos que trabalham com carteira assinada têm nível superior completo ou ainda uma pós-gradução, o que desmistifica a ideia de que as pessoas com deficiência não possuem qualificação adequada para inclusão no mercado.
Este blog entrevistou Tatiana pelo ICOM, a central de tradução simultânea de libras da AME. Para saber mais sobre esse serviço, que pode ser contratado por empresas que querem ajudar a construir uma sociedade mais inclusiva e igualitária, clique aqui.